No
dia posterior ao aniversário de 5 anos de seu filho Kyle, Lori Coble saiu em
sua minivan com seus filhos: Kyle, 4 anos, Emma e Katie, 2 anos, e sua mãe,
Cindy. A família foi para um centro comercial onde havia uma roda gigante, na
qual Kyle gostava de andar, e a uma loja de animais de estimação. Como a hora
de tirar uma soneca se aproximava, os Cobles voltaram para a minivan e foram
para casa. Lori bateu em uma linha de recuo do tráfego ao tentar sair da
rodovia. Quando parou, deu a volta no carro e pegou Katie que começava a
adormecer e fez cócegas em seus dedos dos pés.
Nesse
momento, um grande veículo com 40 mil libras de carga indo a 55 milhas por
hora, bateu na traseira da minivan de Lori e a destruiu. Lori ficou
inconsciente e as crianças gravemente feridas. O choque foi muito violento. Os
funcionários da emergência médica tiveram que separar a família. Mandaram Cindy
e Lori para um hospital, Kyle e Katie para outro e Emma para um terceiro.
Chris,
esposo de Lori e pai das crianças, estava no trabalho quando as autoridades o
avisaram do acidente. Ele correu para o hospital para onde Cindy e Lori tinham
sido levadas. Quando chegou lá, foi levado a um pequeno quarto perto da sala de
emergência. "O médico me disse: 'Sinto muito, mas Katie faleceu.' Alguns
minutos se passaram e eles me disseram que havia uma ligação do hospital
Saddleback. Atendi ao telefonema e a primeira coisa que disse foi: 'Por favor,
me diga que a Emma está viva.' E ele me disse: 'Sinto muito, mas Emma faleceu.'
Deixei cair o telefone, pois não podia acreditar que aquilo estivesse
acontecendo."
Chris
contou a Lori que as duas meninas tinham morrido e correu para o hospital para
onde Kyle tinha ido. Apesar dos olhos abertos de Kyle darem esperança a Chris,
os médicos lhe contaram a verdade. O cérebro de Kyle não estava recebendo
oxigenação. E recomendaram tirar Kyle dos aparelhos.
Lori
foi transportada para o hospital de Kyle para que ela e Chris pudessem dizer
adeus a Kyle juntos. "Ela subiu na cadeira de rodas o mais rápido que pode
para abraçar Kyle e dizer: 'Ele tem que ir e ficar com suas irmãs agora. Suas
irmãs o esperam', disse Chris. Nós desligamos os aparelhos. As máquinas e a
sala se tornaram escuras. Mantive minha mão no seu peito até o coração dele
parar de bater. E ele se foi."
Lori
e Chris disseram que a tragédia se tornou realidade para eles quando tiveram
que planejar o funeral e o enterro de Kyle, Emma e Katie. "No dia anterior
ao funeral, nós fizemos uma última observação. Tínhamos que ver as crianças uma
última vez, diz Lori. "Eles abriram as portas e no fundo da sala havia
apenas três caixões em um semicírculo."
No
funeral, Lori e Chris reuniram forças para falar sobre a vida de seus filhos.
Chris disse: "Era muito importante para mim e para Lori fazermos isso. Uma
das teorias subjacente à perda de entes queridos é enfrentar as coisas difíceis.
Nessa situação, você não pode só se sentar de braços cruzados e deixar isso o
consumir. Você tem que encarar a culpa e passar pela dor."
Lori
e Chris disseram que o luto deles avançara em velocidades diferentes. "Ela
estava há duas semanas na minha frente", disse Chris. "Eu meio que a
usava como termômetro para saber onde estaria em duas semanas no processo de
luto."
Embora
os estágios de luto não seguissem necessariamente essa exata ordem – negação,
raiva, negociação, depressão e aceitação – Chris diz que se espelhou em Lori.
"Em uma manhã, eu passei da negação para a raiva e para o luto. Era tão
óbvio para mim que eu estava nesse estágio. Lori tinha estado lá por algumas
semanas e eu estava vendo que ela estava passando pela experiência e de repente
eu estava me sentindo da mesma forma."
Conforme
eles passavam pela experiência do luto, Lori e Chris fizeram um pacto um com o
outro de não cometer o suicídio - para se manterem vivos um para o outro.
"Nós prometemos não deixar o outro sozinho", Chris comentou. "De
alguma forma queríamos estar com as crianças e acabar com o sentimento de luto
contínuo. Poderíamos facilmente considerar tirar nossas próprias vidas porque
talvez fosse melhor, já que os veríamos novamente", Chris acrescentou.
"Mas ao mesmo tempo, nós estaríamos deixando a outra pessoa."
Onde
havia um lar animado e feliz, Chris e Lori agora encontravam silêncio
ensurdecedor e solidão. "Há milhares de crianças na nossa rua, e elas
estão sempre brincando lá", Lori continua. "Nós tivemos que fechar nossas
janelas. Tivemos que ir para a parte de trás da casa para não ter que ouvir as
risadas. Nós viajamos no Halloween para que não tivéssemos que ouvir as
crianças vindo e batendo à porta."
A
mãe de Lori, Cindy, falou que estava extremamente preocupada com sua filha e
com seu genro depois da morte de seus filhos, completando: "Um dia fui
para a casa deles porque ela não estava atendendo ao telefone e comecei a
pensar: 'Pode ser que eles acabem se machucando, pois eu sei o quanto sofri com
a perda dos meus netos'".
Chris
e Lori não estavam em casa quando Cindy chegou lá. Ela também não viu o carro
deles. "É claro que minha cabeça foi longe: 'O que eles poderiam estar
fazendo no carro?' E foi então que Lori ligou." Ela e Chris tinham saído
juntos, mas Cindy diz que ainda estava histérica até o momento em que falou com
sua filha, que teve que acalmá-la. "O normal seria eu consolá-la. Mas
naquele momento eles é que me consolaram. Mas eu estava realmente receosa por
eles."
Cindy
tinha dois filhos homens, ambos mais velhos que Lori, e comentava com eles que
temia o que Chris e Lori poderiam fazer.
"Meus filhos estavam em contato com eles todo o tempo, e todos nós tentávamos apoiá-los da melhor maneira que podíamos", ela diz.
"Meus filhos estavam em contato com eles todo o tempo, e todos nós tentávamos apoiá-los da melhor maneira que podíamos", ela diz.
Três
meses depois do acidente, Chris e Lori decidiram tentar ter outros filhos.
Chris diz: "Nós sempre nos descrevíamos até aquele ponto como ‘pais sem
filhos’. Quando se tem três filhos tão novos quanto os nossos, toda a nossa
vida é dedicada a eles e você ama fazer isso.”
Por
razões médicas, os Cobles tentaram fertilização in vitro. Na primeira
tentativa, eles começaram com 10 ovos. Três foram fertilizados com sucesso –
duas meninas e um menino. Nós estávamos indo colocar de volta somente dois, mas
percebemos que eram duas meninas e um menino e nós tomamos isso como um sinal
lá de cima, Lori diz.
Quase
exatamente um ano após a morte de Kyle, Emma e Katie, Lori deu a luz aos
trigêmeos Ashley, Ellie e Jake!
Ao
mesmo tempo em que o nascimento de Ashley, Ellie and Jake era um milagre, Lori
e Chris ainda sofriam pela perda dos filhos. "Eles nunca tomarão o lugar
de Kyle, Emma e Katie, diz Lori. Mas a alegria estava de volta à nossa casa.
Estava de volta aos nosssos corações. Eles encheram novamente nossa vida de
amor, felicidade e sorrisos."
Os
trigêmeos já sabem sobre seus irmãos porque ainda há fotos nas paredes e
frequentemente Lori e Chris falam sobre eles. Lori diz: "Eles sabem que
têm duas irmãs e um irmão no céu. E nós vamos ao cemitério e fazemos
piqueniques."
Jorge
Romero, o homem que dirigia o caminhão que batera na minivan de Lori, foi
condenado em três indiciações de homicídio culposo veicular e foi sentenciado a
um ano de prisão. Ele é um pai de três filhos que contaram que ele era suicida.
Lori e Chris encontraram Romero no julgamento e disseram que o perdoariam. “O
Senhor Romero era verdadeiramente uma pessoa muito gentil e de bom coração”,
diz Chris. “Ao contar essa história você pode se arriscar a difamar alguém
imediatamente, mas há uma pessoa atrás do volante, e enquanto eles partilhavam
alguma culpa na tragédia, ele se sentia completamente horrível."
Lori
diz que poderia ter sido qualquer um na direção daquele carro e que o acidente
foi causado primeiramente pela localização do seu carro em um intenso
engarrafamento. “Eu estava presa no tráfego em uma estrada esperando para sair
há cerca de meia milha atrás na estrada, basicamente em um estacionamento de
carros. Há uma curva cega surgindo daquela saída e eu estava muito atrás
naquela curva cega, que ele não me viu. No momento em que ele viu o trânsito,
era tarde demais.”
Chris
diz que a rodovia onde aconteceu o acidente tinha sido uma área problemática
por uma década. Os Cobles processaram o Departamento de Transporte da
Califórnia por morte criminosa, alegando que aquela era uma saída perigosa de
uma rodovia. Eles perderam aquele caso e então foram convidados a pagar US$ 291
mil em honorários legais, mas eles disseram que iriam apelar. “Tão logo a
maioria das pessoas ouviu a palavra 'ação judicial' eles achavam que nós
estávamos querendo de alguma forma conseguir dinheiro com essa experiência”,
Chris disse. “Nós queríamos que o Departamento de Transporte da Califórnia
mudasse seus procedimentos para que eles mantivessem suas estradas sem perigo.”
Chris
encorajou as pessoas vasculhando os piores dias da vida deles para não
desistirem da luta, para irem em frente, mesmo que as coisas parecessem
insuportáveis. Ele disse: “Para mim o luto era como um balde que estivesse se
enchendo e de vez em quando o balde tinha que ser esvaziado. O balde esvaziando
seria você perdendo o controle e se tornando uma bagunça completa por algum
período de tempo. E então tentando se apanhar recuando.”
Para
Lori, encontrar apoio das pessoas queridas é o único jeito de sobreviver à dor
da perda de entes queridos. Ela diz: “Encontre força em seus amados. Abrace-os
bem forte porque você vai precisar deles.”
Traduzido
por Tereza Josefina Costa Mazucanti
Revisado por Thais Mazucanti
Revisado por Thais Mazucanti
Publicado na página
de The Oprah Winfrey Show,
em 25 de outubro de 2010.